Metaverso: Um universo virtual completo! Mas será universal?
Cada um podendo ser, construir, estar, fazer o que quiser, sem fronteiras de qualquer natureza, seja de raça, ideologia, origem social, enfim, livre de amarras típicas do mundo analógico, é o que se tem falado sobre o conceito de metaverso. Seria ainda, uma espécie de nova camada da realidade que terá por objetivo integrar o digital e o analógico, tais como ocorrem nos filmes de ficção científica.
Um exemplo da sétima arte que pode ser utilizado para trazer algum tipo de percepção mais conhecida do que pretende ser o metaverso, é o filme Matrix, no qual as pessoas e máquinas vivem em uma realidade virtual arquitetada por uma inteligência artificial, cuja trama do filme revelou que as máquinas seriam más e utilizariam os seres humanos com fonte de energia, contrariando a 1ª lei da robótica segundo a qual “um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.”
Outro exemplo na mesma linha é a realidade virtual experimentada no filme “avatar”, onde o personagem naquela nova realidade, de transforma em ou outro ser dotado de poderes e características impossível ao ser humano. Já a expressão avatar, por sua vez significa sua representação por meios virtuais, e no metaverso cada um terá sua representação idealizada.
Na prática, porém, momento de ambiente virtual imersivo constituído de diversas tecnologias, viáveis por meio de internet de altíssima velocidade, utilizando-se de hologramas, realidade virtual e realidade Aumentada.
Parece utópico?
Pois bem, esses singelos elementos podem dar uma vaga ideia do que se espera do metaverso, cuja expressão, tem se tornado uma das palavras mais buscadas internet, após o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg anunciar que a companhia Facebook alteraria seu nome para simplesmente Meta, inclusive alterando o foco da empresa, e apostaria, não apenas nas redes sociais já controladas pelo grupo meta.
Com isso a empresa de Mark Zuckerberg, passa a ingressar no seleto grupo de empresas denominadas por organizações infinitas, tal como definido no livro Organizações infinitas: O segredo por trás das empresas que vivem para sempre, de autoria de Junior Borneli, Cristiano Kruel, Piero Franceschi segundo os quais, as
Organizações infinitas: São aquelas que conseguem se renovar continuamente, manter seu propósito, satisfazer seus clientes e conquistar espaço, independente da forma; entendem o passado, estão atentas ao futuro, mas seu foco é o presente, o agora.
A ferramenta ubbersuggest [1] oferece um serviço que mostra como estão sendo exploradas as Keywords ou palavras chaves das pesquisas e demonstra a quantidade de pesquisas que foram realizadas em torno da expressão desejada.
Em fevereiro de 2022 o ubbersuggest revelou que a expressão metaverso foi pesquisada 90.500 vezes, demonstrando o grande interesse público sobre o tema. As páginas que mais foram acessadas foram aquelas que respondiam a pergunta fundamental o que é metaverso.
A expressão metaverso surgiu pela primeira vez em 1992 no livro de ficção científica “Snow Crash”, escrito por Neal Stephenson. Na obra, o personagem Hiro Protagonist é um entregador de pizzas na vida real. Mas, no mundo virtual, ele se transforma em um hacker samurai. Stephenson chamou essa realidade digital de metaverso.
Para entusiastas, o metaverso é um componente-chave da próxima fase da evolução da web/internet e potencialmente pode ser muito inovadora ao representar uma mudança de paradigma a tudo que conhecemos atualmente. Um dos elementos chave desta web 3.0 seria uma internet mais imersiva, descentralizada e aberta.
Segundo dados da revista infomoney [2], A Bloomberg Intelligence teria estimado que o mercado do metaverso deve chegar a US$ 800 bilhões (R$ 4,5 trilhões) em 2024, alavancados principalmente pelos games de metaverso e acontecimentos atingidos nessa nova categoria de realidade, entre outras tantas possíveis formas de investimentos.
Mas se engana quem acha que o metaverso seria uma realidade virtual geograficamente definida, um ambiente específico, na verdade metaverso é um tempo no qual estaremos mais conectados do que desconectados, e, portanto, não é um lugar, cada um poderá ser o que quiser, ter o que tiver vontade, é necessário meios de pagamento para comprar os itens que o avatar irá precisar nessa nova realidade.
Nos idos dos anos 2000, próximo ao que foi chamado de bug do milênio, já havia internet, embora incipiente já era a internet, e, em razão do seu estágio, refém das suas limitações. Atualmente, com as tecnologias existentes, podemos fazer muito mais e a cada dia estamos mais conectados, mais virtualizados e a Pandemia do COVID-19 apressou o processo.
Se o tempo metaverso marcado por uma grande imersão, poderemos ser o que quisermos, não é impossível dizer que já estamos nos primórdios do metaverso, pois nas nossas redes sociais, quase sempre somos felizes, mostramos o melhor de nós. Portanto, se a internet no seu início, embora muito diferente do que temos hoje já era internet, podemos dizer que já vivemos num primitivo metaverso.
Mas estar nesse estágio também requer dinheiro, a final o capitalismo se alimenta e se reinventa o tempo todo. Ai entra em cena mais fortemente as já existentes criptomoedas, que é genericamente um tipo de dinheiro, porém, ela não é emitida por nenhum governo e existente apenas no mundo digital. Embora o bitcoin seja a moeda virtual mais conhecida não é a única e, no metaverso outras tantas existirão.
Mas e o que o futebol tem a ver com isso? Tudo e nada.
Não há dúvidas que o futebol é o esporte mais popular do mundo, não tenho a pretensão de tratar da história do futebol, mas apenas colocá-lo em destaque, para fins da presente discussão, como sendo um esporte que mobiliza milhões de pessoas, por amor aos seus times, por exercício profissional, e obvio, muito dinheiro.
Segundo Jornal do Comercio, o futebol chegará à 21ª edição da Copa do Mundo no Catar mais rico do que nunca. Dados divulgados pela consultoria Deloitte apontam que, pela primeira vez, o mercado do futebol na Europa atinge a marca de 25 bilhões de euros (cerca de R$ 112 bilhões) [3].
Segundo matéria do portal GE, o Catar revelou que pretende gastar somente com instalações esportivas (como arenas e centros de treinamento) para o torneio em 2022: US$ 30 bilhões (R$ 117 bilhões na cotação atual).
Portanto, se considerada ainda toda economia informal que circunda o evento futebol, incluindo cambistas, alimentação, hotelaria, transporte, sem contar os valores relativos ao direito de imagem dos jogadores os valores movimentados são ainda maiores.
O mercado multimilionário de games certamente terá muito interesse no metaverso, podendo, por exemplo transformar o maior “perna de pau”, em uma estrela do esporte. Mas o tema de fundo aqui não é esse, embora sedutor, afinal, “quem não sonhou em ser um jogador de futebol”.(skank)
Se o momento é dedicado à internet, às redes sociais, não se pode deixar de lado o fato de que os jogadores de futebol, são as grandes estrelas, arregimentando uma legião incomensurável de seguidores. Para se ter um exemplo, o jogado de futebol Cristiano Ronaldo possui apenas em uma das suas redes sociais, 400 milhões de seguidores, segundo dados do portal www.terra.com.br [4].
Portanto, o poder da internet, sua avassaladora capacidade de penetração em meios sociais encontra algumas barreiras, notadamente em países em desenvolvimento com o Brasil, cuja infraestrutura está longe da ideal para a existência desse ambiente, sem contar os inúmeros países da África subsaariana, américa latina dentre outros tantos.
Se nos dias atuais os jogadores Cristiano Ronaldo, Neymar, Messi são as grandes estrelas do momento, sendo temas de documentários, filmes, reportagens em outros tempos, já na era da internet outros jogadores tais como Ronaldo (fenômeno), Zidane, o brasileiro Kaká e ainda o britânico David Beckham.
David Beckham, por exemplo, no ano de 2008 foi considerado Jogador do Ano da Major League Soccer [5]. Dada sua importância para o seu time e ao futebol foi homenageado com uma estátua erguida em Los Angeles/EUA em sua homenagem [6] . Tal deferência, revela per si a relevância internacional do jogador.
Tamanha exposição, em que pese os benefícios de ordem financeira, causava, porém, cobrava seu preço, como ocorre com toda celebridade. Não são raras as imagens e vídeos do jogador não conseguindo sair às ruas, ir a um restaurante sem que uma legião de fãs o seguissem para conseguir um aceno, quiçá uma foto.
O prestígio do jogador era imenso, inclusive chegou a gravar um documentário na Amazônia chamado “David Beckham: Into The Unknown”, em tradução livre (David Beckham: No Desconhecido) em que, ao lado de alguns amigos se embrenhou no meio da floresta pilotando sua motocicleta.
O documentário inicia com o jogador desembarcando na cidade do Rio de Janeiro, cercado por seguranças, jornalistas, fotógrafos, enfim, cenas típicas de uma celebridade. Em seguida, o documentário inicia sua fase amazônica, na qual o jogador pilotando por estradas péssimas da região, dentre as quais o moto viajante Guga dias, do site http://www.diariodemotocicleta.com.br/ denominou a BR 319 como de estrada Fantasma [7].
No documentário, o jogador sorridentemente passa por diversos locais desabitados e, segundo ele, uma das melhores experiências dos últimos anos, é poder se sentar à beira de um bar comum de beira de estrada e pedir uma bebida sem que seja envolvido por uma multidão de fãs. O anonimato seria uma experiência muito gratificante, especialmente para uma celebridade mundial.
Ao visitar uma tribo yanomami o jogador se encantou com o povo, sua cultura e tradições, pegou crianças no colo, enfim, aproveitou sua estada em meio aquela comunidade, em meio à floresta, anônimo!
Mas o que o metaverso tem com isso?
Ainda na tribo, num dado momento o cacique, guardião de uma milenar cultura, perguntou a ele, (David Beckham), o que ele fazia. Sem maiores delongas, e com toda naturalidade de falar de algo do seu dia a dia, disse ser jogador de futebol.
Neste momento o cacique perguntou a ele o que seria futebol. Entre idas e vindas explicou o que seria um esporte mais popular. Porém, momentos depois, revelou para seus amigos que, pela primeira vez na vida teve que explicar para alguém o que era futebol e porque corriam atrás da bola.
Essa situação é muito inusitada, porém, nem tanto assim, eis que como dissemos o futebol é um dos eventos de maior audiência no mundo, e, goste ou não, até aquele momento, “todo mundo sabia” o que era futebol. As aspas são necessárias, pois o cacique não sabia e talvez outros tantos caciques não saibam.
A pergunta do cacique revelou, porém, a dimensão do mundo, a vastidão de conhecimento sua dispersão e como, um fato notoriamente sabido, inventado seguramente a mais de 100 anos, antes, inclusive do nascimento do cacique, era algo totalmente desconhecido.
Segundo dados da Associação Brasileira de Internet- ABRANET [8], com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua e números de 2019, o IBGE, 40 milhões pessoas no Brasil, não tinham acesso à Internet, esse enorme quantitativo, se torna ainda mais impactante se considerar que correspondente à uma população da Espanha dentro do Brasil e, portanto, totalmente distantes do que se pretende ser o tal metaverso, inclusivo, universal.
Situação ainda mais alarmante, ocorre em regiões da África subsaariana, eis que apesar das conquistas digitais, o mercado está longe de ser aproveitado. Um estudo recente do Banco Mundial, segundo o jornal Alemão Deutsche Welle mostra que apenas uma em cada cinco pessoas na África subsariana usa a internet, índice bem abaixo da média global, que é pouco mais de 50% [9] .
Se, o acesso à internet de alta velocidade é uma necessidade incontornável para o sucesso do metaverso, a conclusão insofismável é a de que a inexistência desta tecnologia o coloca em xeque, sobretudo em países menos desenvolvidos, trazendo à tona à pergunta sobre sua real implementação universal.
Não obstante seja instigante e aparentemente promissor este novo modo de vida virtual, há diversas experiências em que as tendências tecnológicas mudam de tempos em tempos. Algumas inovações prometem mais que outras, mas nem sempre dão certo como o esperado.
Dentre essas tantas promessas vale lembra das TVS 3D que No início da década de 2010, prometiam revolucionar a sala de casas do mundo todo, oferecendo maior imersão e conteúdo que “saltaria” da tela. Também o Google Glass, no ano de 2013, quando o Google apresentou os seus óculos de realidade aumentada, o dispositivo foi visto como uma das grandes inovações do mundo da tecnologia, mas que ao final caiu no esquecimento.
Ainda o Microsoft Zune que Em meio a todo o sucesso dos iPods, a Microsoft resolveu que seria uma boa ideia transformar sua plataforma de músicas Zune em um dispositivo de mídia portátil. No entanto, o aparelho não só não ofereceu risco algum à hegemonia da maçã no segmento, como se tornou motivo de piada em diversos filmes e séries posteriormente.
Portanto, não obstante os incontáveis investimentos e apostas, nem sempre as inovações tecnológicas são assimiladas pelos consumidores da forma como idealizada pelos desenvolvedores, que num dado momento pensaram enxergar um oceano azul, quando em verdade se mostrou pura miragem.
Outro ponto a ser questionado, é como será garantida a liberdade plena, como será a regulação legal desse universo sem fronteiras de qualquer natureza, seja de raça, ideologia, origem social, livres de amarras típicas do mundo analógico, como pretende o metaverso. No presente as big techs mais famosas, utilizam de seus algoritmos, para definir o conteúdo que chega em nossas telas, podendo, desta forma, determinar ou regular segundo seus critérios e interesses, esse novo universo.
Por fim, a pergunta que fica é se o metaverso será uma realidade em alguma tribo localizada na Faria Lima, em alguma oca em nova York, ou será uma realidade nos mais altos edifícios no meio da floresta virgem.
Um universo virtual completo! Mas será universal?
[3] https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/esportes/2018/06/631581-receita-do-futebol-superar100-bilhoeseesporte-jaemaior-que-pib-de-90-paises.html
[4] https://www.terra.com.br/esportes/craques/cristiano-ronaldo/cr7-se-torna-1-pessoaater-400-mi-de-seguidores-no-insta,95e1465d44432d998a07e72f4a964ce8vagssry8.html
[8] https://www.abranet.org.br/Noticias/IBGE%3A-40-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acessoaInternet-3345.html?UserActiveTemplate=site#.Yg7OzujMLIU
[9] https://www.dw.com/pt-002/como-chegaainternet-%C3%A0s-regi%C3%B5es-mais-remotas-de-%C3%A1frica/a-49238913
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